2006/09/28

CUSPE


Ao andar pelas ruas centrais
vi ao longe
um mendigo que dormia
com pele dupla
tão preta!
e de sujeiras acumuladas.

Ao aproximar-lhe
salivei de incômodo
e logo ia cuspir
mas acabei segurando
e salivando
salivando
num impulso de pressa
aquela cena engoli.

Seria este o reflexo
do meu posicionamento social?
(sentimento sentido
não cuspido
e em passos esquecidos)

Meio a essas atitudes, confesso:
sou inerte,
meia a parte.
Mas de desejo intelectual
de que cada mendigo
tenha lá suas compensações
pela vida
e que encontre
em cada esquina
seus versos e poesia.

Continuei andando
em pena
já esquecendo a cena
e imaginando
quantos destes cuspes
estão em arquivos
(e em nossos estômagos):
mendigos anônimos
que, atores
só cobram um pão
para vender suas imagens
em ano de eleição.

Já me encontrava longe
e esquecida a cena,
numa lanchonete tomava café,
enquanto dois homens
conversavam em pé
sobre o direito a vida
lazer e comida.
Detalhes
esquecidos e diferentes
da realidade que vejo pelas esquinas
desta capital do belo
e de ordinárias sinas.
(Foto: REPRODUÇÃO)

2006/09/27

BELO ESPERADOURO

Cidade do Belo
Belas artes
Belo horizonte
Bela vista
Belo vale
Belos prédios
Belas árvores.

Mas ao andar
pelas ruas
vejo tudo ao avesso:
(poréns)
mendigos
violência
trânsito difícil
mães usando suas crianças
enfermos expondo seus ferimentos
clandestinidade no comércio...
me entristeço.

Lutemos pelo belo
pelo horizonte
e pelo nosso endereço,
fazendo deste tropeço
um arremesso
para que um dia
cantemos deste poema
apenas os primeiros versos
apenas o começo.

2006/09/26

COMPARAÇÃO PLUVIAL


A chuva no interior
sacode a água
para um único córrego.
Traz a cena da igreja
encoberta por nuvens,
salva pela luz avermelhada.
-Apaguem as luzes,
desliguem a TV:
trovões e raios.

A chuva na capital
vem avisada atrás da montanha
e a água lava as ruas.
Traz a cena dos prédios,
luzes e relógios
que sobrevivem a nuvem d'água.
-Acendam as luzes, vamos ver TV:
trovões e pára-raios.

Frustração não ouvir
o rasgar do relâmpago?
Não,
é um silêncio remido
por inspirar cânticos.

IN(TER)ESSES


Montaram o homem
ao juntarem os seus pedaços.
A esses nomearam
cabeça tronco e membros.
Por desatento
deixei o homem cair
espanto:
eram letras que estavam ali
nitidamente compondo:
EGO / INTERESSE DE MIM.

É necessária uma revisão
renomeações, como quase
hão de todos vocês concordarem
que o homem
não faz das pernas
a sua base.

2006/09/22

Tua Luz


Indago-me pela tua luz
Solar
de vida e solo pra mim.

Luz que vem terremoto
mas para firmar-me
os pés em areia chão

Luz você Sol
que dá calor, permite fotossíntese
e desencadeia a vida
Luz você
que Sol, também libera
suas ejeções coronárias de massa.

Dessa imperfeição
eu acho graça
(e adoro contigo fazer graça!).

Indago-me pela tua luz
que vezes
parece fugir de mim Plutão
(Foge não!)
34 dias de volta
em ti mesmo
não pode nos afastar assim.

Tua luz me é precisa
nossos moldes são simetria
- construção da lógica
de toda essa atre-vida.
Abraço que afaga e afoga
criança feliz pulando corda
como se eu, quando sorri pra mim.

2006/09/19


Aquela árvore da entrada
(para também país do mundo mágico)
é muito bonita.
Não em altura esbelta e desenhada.
Ela tem desenho horizontal
e o porque disso
a torna mais bonita ainda.
Seus tronco e galhos braços
carregam o emaranhado de cipós
que à primeira vista a sufoque.
E quão belo é o seu diferencial
essa é a razão daquela gostosa sombra
essa é a sua vida!
Vida-mistura
árvore com cipó
árvora reage a vida:
em cada pedacinho que dá
ela respira
galhinhos verdes-água que vão
brotando horizontais galhos
suas grandes asas
que ali não estariam
sem o "malígno" cipó
que a abraça.
Ela não seria.
Não seria ela
(sombra descanço para os bichos
travesseiro para centinelas).

2006/09/11


Na estrada
como os buracos
as pedrinhas de cascalho
também estão presentes.
O andarilho pedestre
tem que andar na contra-mão
de frente para o carro que vem.
Você olha para o lado oposto
e nele a terra parece mais fofa
para o chão do seu pé descalço.
Quase em deslize
aqueles que te servem de base
para o passo a frente
pensa em ceder.
Nota-se ao reparar
que assim também na vida
o chão que oferece de longe algum conforto
também pode ser fatal
para um andarilho pedestre que resolve
atravessar para o lado oposto:
os pés estarão pisando em macio
mas pelas costas pode-lhe pegar um carro
em acidente
ou desafio.