2006/05/17

OLHAR POSITIVO


Há de ter-se sempre escolhas bipolares
ímpares ou pares bolas de sinuca
que te trarão a vitória
ou não.
Há de ter-se sempre dois gumes na mesma espada da vida
que faça ou defenda feridas
luz que cega ou ilumina
por sina
sabedoria
ou tolice
aqui no mundo das maravilhas
eu, Alice.
E hoje entre tantas hipóteses
uma foi olhar para essa vida
que ri
ri e que brinca
com destinos como que se com piões.
Essa vida atrevida
que te colocou diante de mim
e agora ameaça tirar.
Mas como há de ter-se sempre escolhas bipolares
escolho ver que as circunstâncias
foram só circunstâncias
pois a essência já ocorreu em nossas instâncias:
de sermos
como pudemos ser.
Sem dor, apesar da saudade
escolho ver em próximas realidades
sermos
quem poderemos ser.
"Quando o machado entrou na floresta,
as árvores disseram:
o cabo é dos nossos."
(provérbio turco)
(Foto: REPRODUÇÃO)

Toda espera é feita de noites
Toda busca, cheia de sóis.
(Sarita Vicencio de Barros)

2006/05/11

vendo acontecer


vem e acontece
a gente acaba
que se esquece
do rasante e arrasante
tempo
a que estamos expostos...
vem e acontece
e quantas vezes aquela data limite
como que gás em chamas
simplesmente desaparece
ou quantas vezes o retrato
que imaginávamos na estante
apodrece
em nosso imaginário
e a gente cede desesperanças ao tempo:
menos um desejo
menos uma realidade que a gente queria
que viesse e acontecesse.
mas continua
e vem e acontece
tantas coisas que um dia nos foram hipóteses longínquas
tantas pessoas que nada mais eram que rostos a deriva
tomamos posturas
mudamos de ruas
amores e armaguras...
vem e acontece.
acontece sim, o tempo pra tanto não se envaidece
a gente envelhece
alguns nos esquecem
e os nossos sentimentos se engrandecem.
vem e acontece,
para o bem ou para o mal
a colheita do alimento ou do veneno da alma
enquanto a gente se desvaira
com o passar dos ponteiros
do relógio da sala.

2006/05/07

PRAÇA SETE


Em meio a Praça Sete
sinto tamanha diversidade
entre brancos pretos e amarelos
doutores de terno
e vendedores de vale.
Galeria, Pirulito, edifícios
tribos de todos os lugares
uma dona que vende balas
um senhor que carrega malas
o comércio
o hippie
e o metaleiro:
compõem a praça
de janeiro a janeiro.
-Um real o CD, CD a um real!
-Salãaao
corte três escova cinco
salãaao...
-Posso fazer uma pesquisa?
-"Contribuam com o que puderem",
lê-se na placa da vitrine-viva.
Melodias embaralhadas
de tanta gente e tantos mundos.
Tem-se
bi
homo
e heterossexual
nesta Sete Praça
das maiores singularidades
em número plural.
(Foto:REPRODUÇÃO)

2006/05/06


Seus mesmos olhos
olhos de vida gritante
me gritam
me chamam
me vida
Oásis que me é visto
nestes olhos:
doçura
amor
loucura
Negrumes pupilas sombreadas.
Oásis que me é visto:
luz que assombra
olhos de luzes
sombras iluminadas.

BEAGÁ


Cidade substituta
com o berço num arraial
sucessiva a Ouro Preto:
BH, a capital.

Dos primeiros planos
que surgiram
nota-se a Avenida do Contorno
que desde o início
quis alarmar:
-Sou um exemplo claro
de que em torno de mim
BH não vai ficar.

Ficou de longe a observar
a correria de Sampa
e a elegância do Rio,
e crescendo
(de dia) no Parque e
(de noite) na Afonso Pena,
esta senhorita e centenária BH
teve desde sempre em si
o orgulho dos mineiros:
a diversidade.
Têm-se pobres e ricos
igrejas e circos
capetas e santas
(BH de tantas):
Efigênias
Teresas
Mônicas.

E que plano era esse de a Contorno
BH abraçar?
Impossível:
seriam todos esses mundos
mas não seria BH.
(Foto:REPRODUÇÃO)

IDÉIA E AIS

Deus quiser,
publicarei minhas obras,
concluindo ser
da espécie homo-sapiens de verdade,
junto a fazer um filho
e plantar uma árvore.

LAGOA PEQUENA


Perto do Batista e da Floresta,
um bairro de culturas:
Sabará
Ponte Nova
Itabira
Araxá
Diamantina...
É a Lagoinha
com seus peixes-cidades
em cardume certo.
De onde vejo
as luzes centrais
de perto.
(Foto: Gabriel Zupo)

2006/05/03

Despercepção horária


Sob os olhos matinais
das seis horas
íamos perdidamente
encontrados.
Justificado pelos nossos rostos
comentário dos demais:
-São namorados.
Benção a deles:
de presenciarem
a vida
ali, a paisana,
numa quinta
onde até o sol se esquecia
que o dia
já amanhecia.
(Foto: REPRODUÇÃO)

Cores

Tem um azul a tarde
de terça-feira lá fora
uma brisa pela minha janela amarela
e uma expectativa pela dama negra que se aproxima:
rosas, verdes e anilinas!

Filosofia de bar:

Se esquentar,
logo chove.
Pensei em você:
quero chover.

Como o rio


A verdade é que passamos como o rio.
Interessa à nós banharmos a margem,
desenvolvermos afluentes
e sermos cheios - sinônimo de vida.
E por mais seca que seja a estação,
que seja apenas a estação,
não nós,
o rio.


(Foto: REPRODUÇÃO)

Primeiro Contato


É admissível que num primeiro contato
não seja esperado um
-Nooossa! Essa é a Lagoinha!
Mas como um perfume
uma paixão
e um bom paladar
ela vai aprimorando suas conquistas.
Crescida na boemia
é esperar demais que ela chegue pedindo atenção
(tem orgulho)
e é naqueles que ela finge não ver
que desperta o coração.
-Coração lagoinhano!
-Ah, mas já percebeu que lá é um lugar escuro?
Não me causa boa impressão...
Ora, a luz é contrária a noite
Sol não combina com boemia
(seu berço sua escola sua vida)
de Ubá a Itapecerica...
Lagoinha quer ser descoberta
e não descobrir.
É preciso pegá-la de frente
ver vida onde a maioria vê Bonfim.
Enfim dizer:
-Nooossa! Essa é a Lagoinha!
Porque aí então não a sente
porque aí então sente a si.
(Foto: Gabriel Zupo - rua Itapecerica em direção ao Centro)

quanto ao ato de plagiar:

Por um lado a idéia do apresentador Chacrinha, de que na TV (aqui, na Comunicação), "nada se cria, tudo se copia"; e por outro lado, é ver o seu trabalho, a sua idéia, ser gozada, aproveitada por outrem... ocorrendo essa última, entre as piores sensações, há aquela de sentir-se valorizado por alguém que ali como você, está escrevendo e o melhor: aproveitou, concordou com as suas idéias. Querendo ou não, o plágio é fato, é peça nesse jogo.
A diferença é o jornalista se postar à criação (pesquisa, trabalho de campo...) ou ao repasse de informações que talvez nem domine... e se assim for, que plageie de modo a não ser punido.
(fevereiro 2006)

2006/05/02

Persomenagens


Excluída dos planos de Aarão Reis
e adotada pela família Mello
Lagoinha fez-se grande berço
transformando suas ruas em peixes-cidades
para em vingante inclusão
abraçar aqueles que viessem de demais localidades.
Quem como ela, chegasse de malas
aqui sim encontraria hospitalidade
Itajubá Itapecerica Ipatinga
Conceição do Mato Dentro
Itinga Araxá Diamantina
Ubá Além Paraíba...
Um mapa um estado
uma lagoa diversificada!:
de Ouro branco a Ouro preto
de tubarão a piaba.
Primeira boemia e bairro comercial externo
a Lagoinha abriga em suas águas
o primeiro prefeito da Capital:
ADALBERTO Dias FERRAZ da Luz
aquele que como dono das primeiras oportunidades
não fez nada
para diminuir da Lagoinha
o peso de sua cruz.
Mas ela o carrega
(em homenagem)
para que ele sinta
os leves pés da marginalidade
que um dia apartou para longe de si,
mas que agora, como ruminante
passa pela sua memória
como se passasse em cima de capim.
(Foto: Gabriel Zupo - rua Adalberto Ferraz)

amanhecer

amanhecer

a manha
de ser
amante
(n) amanhã

Comunicação e consumo: traços da Indústria Cultural

Expandindo os limites da necessidade, o consumo passou a ser um meio de hierarquização da sociedade.
Através da posse de determinados objetos e da escolha por marcas, o indivíduo se auto-identifica, simbolizando através do consumo aquilo que o encaixa em determinada esfera social.
A mídia tem grande papel influenciador na escolha dos indivíduos por seus símbolos, através da publicidade e mesmo da programação dos meios. Recentemente, a TV Globo teve como uma das vedetes da programação a novela "América", que entre os temas abordou também a cultura do rodeio. De tema, a questão passou a ser influência e se concretizou em manifestações das esferas sociais: moveu-se a indústria têxtil, a moda, a indústria de calçados, a fonográfica, a de objetos e tudo o que pôde remeter à novela "América", direcionados a uma esfera social que tem o poder de consumir além da necessidade, por auto-identificações e por simbolizar aquilo que possa lhes representar realizações sociais.
O consumo é também uma dimensão do processo comunicacional, pois exprime desejos, sentimentos e interage os indivíduos que se assemelham, devido aos símbolos que têm em comum.
A própria cidade se divide pelo consumo: em bairros de maior economia têm-se casas que simbolizam uma maior economia, tem-se marcas importantes em estabelecimentos e produtos, e todo um conjunto de símbolos que represente aquela comunidade na sua esfera econômica, diferenciando-a da comunidade de um bairro de economia menor.
Mais que uma sociedade de espetáculo, vê-se na sociedade capitalista o poder, a necessidade da comunicação: tendo o capitalismo como pano de fundo, o consumo é mais um meio contemporâneo de fazer comunicação.

2006/05/01

quanto ao futuro:


Embora o nosso destino possa estar de longe
dando formas à nossa vida,
é de se crer que muita coisa depende
é das nossas mãos,
as responsáveis em fazer desta,
uma felicidade constante.

quanto ao passado:


Se ficarmos só lembrando dessa época,
acabaremos por perder o trem,

este trem da vida,
que está passando e que guarda 1 milhão

de descobertas para nós,
inclusive

sobre nós mesmos.

águas de julho

quanta tranquilidade
é nadar
em águas
tão mansas
e tão loucas
(que é possível sentir)
desaguar
o oceano
sentir-me de águas fluviais.
dias e noites
em águas que faz-nos deuses
e nos saciam as veias animais.

Anônimos do Vermelhão

De acordo com os compromissos, horários e rotinas que se cria e vive, vamos descobrindo e passando a viver com várias outras pessoas, anônimas, mas que se tornam conhecidas pelos rotineiros encontros - o que faz com que as circunstâncias que provocam esses encontros se consolidem religiosamente, a cada dia.
Uma boa circunstância, como exemplo, é o ônibus das 5:55hs, o "vermelhão" da ida, capital-interior.
Através desse ônibus, encontro com meus anônimos colegas todos os dias úteis. A começar pelo motorista: rosto simpático, moreno e baixinho; logo, o trocador: sonolento; a moça loira que desce do ônibus um pouco depois que eu entro; os policiais que entram pela porta traseira; um rapaz, de uns 27 anos, que parece ir trabalhar e uma mulher, que traja uniforme escolar e desce do ônibus num desses povoados de beira de estrada, onde julgo que ela leciona.
Acredito que cada um desses, assim como eu, vêem os outros como personagens de uma peça teatral, onde cuja ausência causaria diferença notável.
Apesar do mesmo teatro, observei que ocorre diferença entre os atos, ou seja, observei a diferença do comportamento das pessoas que invertem o sentido da viagem, fazendo o sentido interior-capital, onde passando a frequentar o ônibus "vermelhão" comecei a conviver com usuários daquele transporte, rotineiramente num certo horário, e pude chegar ao ponto de já bater o olho e separar aqueles que estavam em rotina dos que não estavam, e até mesmo se estavam a passeio...
Mas a diferença e ponto-forte da viagem interior-capital é o comportamento das pessoas: falam alto, fofocam, dormem batendo a cabeça contra o vidro da janela, reclamam, se exibem, riem alto e adoram fazer piadas contra a empresa do ônibus.
Eu, por gosto, costumo viajar fazendo alguma leitura, e espero que meus colegas de viagem me rotulem baseados neste fato, podendo eu assim, fugir aos demais comportamentos citados.
Certa vez, eu estava no ponto, na volta para casa e passou um moço de carro: parou, julgou o meu destino e se ofereceu a cobrar o mesmo preço na viagem de carro. Típico de cidade de interior, todos se conhecem. Particularmente não conhecia o tal moço, somente de vista.
Pensei rápido: meus colegas sentiriam minha ausência!, mas logo fui tomada pelos incentivos da engenharia hawaiiana, ao lembrar da pródiga frase "É porque nunca se sabe" e perguntei:
-Posso ir na frente? -e fui entrando no carro.
No próximo ponto, mais três passageiros entraram e rumo à capital conheci o nome do moço e descobri que ele era um dos meus anônimos colegas de viagem, do ônibus de volta.
O moço motorista, eu e os três passageiros viemos estrada afora conversando sobre o "vermelhão" e contando causos: "aquele homem que caiu no ônibus", "um dia que sentei no corredor", "a mulher que dormiu e vomitaram em cima dela", "o dia que o ônibus quebrou", "os passageiros nervosos", "o motorista mascarado", "todos esfomeados por uma cadeira"... e fomos, cada um relatando um causo, despertando o próprio comportamento "vermelhão" que cada um ali tinha. Só viemos a "acordar" com um comentário do moço motorista, que lembrou que a cor daquele carro era vermelho, foi quando vimos que o nosso comportamento estava tão digno, como que se estivéssemos no próprio "vermelhão".
Consolidamos nosso coleguismo, cada um expôs o seu compromisso e logo nos vimos na capital.
Sem as várias paradas e podendo correr um pouco mais devido ao porte do carro, economizamos quase 30 minutos e creio que cada um levou consigo não só o tempo poupado, mas a certeza de que mais que um meio de transporte, o "vermelhão" é como gripe de inverno: contagiosa, transformadora e ás vezes prejudicial, mas quando lembrada, vem acompanhada de cobertor e chocolate quente.

(setembro de 2003)

E Jaz de Mello


Como que se arrancassem uma das mãos
e dessem um dedo em compensação
arrancaram da Lagoinha sua memória
a sua Praça Vaz de Mello
só compensando-a depois
com a nova Guilherme Vaz de Mello:
para lhe dizer que não lhe sorriam
deram-lhe um sorriso amarelo.
Onde passavem os bondes
bêbados vagabundos operários
agora passam muitos num raio
num raio de progresso e muito ferro:
no metrô ferroviário.
Lagoinha é ressentida
e nem há como não ser!
Arrancaram-lhe a Praça-mistura
de boas famílias, criminosos e prostitutas
arrancaram grande memória do seu viver.
(foto-REPRODUÇÃO)